É uma era Leandro Vieira na Sapucaí. Em oito folias desde sua estreia como carnavalesco, o campeonato da Imperatriz Leopoldinense ontem foi o quinto de sua carreira — três no Grupo Especial e dois na Série Ouro. E o artista, que tem sua obra marcada pela brasilidade e enredos ligados à cultura popular, vai se consagrando como uma espécie de Midas da Avenida. Só que, em vez de ouro, tudo que ele toca vira daqueles carnavais memoráveis.
Nona estrela: Imperatriz é campeã do carnaval 2023 do Rio com desfile lúdico sobre LampiãoApós subir em 2022: Império Serrano fica em último lugar e é rebaixado para a Série Ouro
Seu début na Caprichosos de Pilares, em 2015, pelo grupo de acesso, foi tão elogiado que cacifou o então novato ao convite para assumir a tradicional Estação Primeira de Mangueira, que vinha amargando apenas o meio da tabela nos desfiles. Logo no primeiro ano, em 2016, foi campeão, com uma homenagem a Maria Bethânia. Em 2019, garantiu outro título incontestável à escola, com “História para ninar gente grande”. E enquanto se mantinha na verde e rosa, passou a ser procurado por escolas da Série Ouro em busca do retorno à elite. A Imperatriz fez isso, no carnaval de 2020, e venceu. O Império Serrano também, em 2022.
Este ano, pela primeira vez fora da Mangueira no Grupo Especial, Leandro era a aposta da Imperatriz para voltar a brigar por títulos. Nos preparativos para o desfile, ele imprimiu seu estilo no barracão. No desfile, pulava em meio às alas, vestido de camisa florida e chapéu de pirata — porque, além de carnavalesco, ele é folião, gosta de bloco de rua e já foi ritmista da Portela. Eram amostras de felicidade de quem sabia ter feito um trabalho que o credenciava, de novo, ao campeonato.
O desfile: Suntuosa e sem erros, Viradouro lutou pelo título
Sobre 2024, apesar de não confirmar continuidade na escola de Ramos, o carnavalesco disse ontem, nas comemorações do título na quadra, que já pensa no próximo carnaval. Spoiler, ele não deu. Mas brincou dizendo apenas que a palavra era “delírio”.
— Pela festa que a Cátia (Drumond, presidente da Imperatriz) fez quando me viu aqui na quadra, acho que é sinal de que eu não devo ir embora — disse, com o sorriso largo no rosto. — Em 2020 (com enredo sobre Lamartine Babo), fui carnavalesco da escola no grupo de acesso e fomos campeões. Agora, no Especial, fomos campeões depois de 22 anos. Isso é motivo de alegria para mim, porque eu me envolvi com os sonhos dessa comunidade.
Sem barreiras: folia no Rio é marcada pela inclusão e liberdade
Nesse sonho, ao propôr o enredo sobre Lampião à Imperatriz, Leandro adaptava as narrativas com tom político de alguns de seus desfiles anteriores. Mas não abandonava sua preferência por temas da cultura popular nem sua estética, cheia de “leandrices”, o que se pode ler como conteúdo apurado e extremo cuidado com cada detalhe de carros alegóricos e fantasias.
Nesse casamento entre discurso e forma, ele retratou de maneira jocosa a decapitação do cangaceiro, com mamulengos carnavalescos numa imensa alegoria. Em outro carro, aeronaves lúdicas conduziam Lampião aos céus. E um tripé parecia um relicário com esculturas de santos. O resultado, além da vitória, foi um Estandarte de Ouro na categoria enredo este ano.
Ao GLOBO, pouco antes do desfile, no entanto, ele comentava que esse Leandro da Imperatriz já não era o mesmo que brilhava na verde e rosa.
— O Leandro da Mangueira não é o Leandro da Imperatriz. Creio que cada escola precisa de uma coisa. Como vejo a comunidade da Imperatriz é diferente de como vejo a da Mangueira. A menor diferença que existe entre elas é a financeira. Quando propus o enredo, quis imprimir o que fizemos com Lamartine em 2020. A estética continua a mesma — disse ele.
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