Angela Leal celebra o aniversário do Rival e lembra histórias com Cauby Peixoto
No próximo dia 22 de março, o Teatro Rival Refit completa 89 anos. Símbolo de resistência cultural do Rio de Janeiro, fez parte do processo de revitalização da Cinelândia e é uma aparelho a ser celebrado, principalmente neste momento em que as atenções estão voltadas para que o Centro do Rio volte a ganhar vida, depois do tsunami que foi a pandemia. Neste Papo Reto, a gestora do teatro, Angela Leal, conta como foi deixar a carreira de atriz de lado para se dedicar ao Rival e lembra de histórias que viveu — e vive — nos bastidores.
Qual é a emoção de completar mais um aniversário do Rival? Como ele faz parte da sua vida?
A emoção de completar mais um aniversário do Teatro Rival faz com que eu sinta que estou cumprindo uma missão que tomei para mim, que é a revitalização do Centro da cidade, mostrando que o teatro pode ter a força mesmo sendo da iniciativa privada — de existir praticamente há nove décadas. É uma emoção muito gratificante, muito preciosa.
O teatro te consome física e emocionalmente, não é? Ficar afastada dele, gerindo de longe, por questões médicas, é dolorido?
Sim, claro que sim, mas também sempre é muito prazeroso, porque lidar com o Teatro Riva Refit é lidar com a cultura, com a carioquice, e isso me instiga ao ponto de eu dar prioridade à cidadã carioca, cidadã brasileira, do que à atriz que eu sou.
Como se tornar gestora do Rival interferiu na sua carreira de atriz?
Ao longo dos últimos anos, eu cuidei muito mais do lado cultural do Teatro Rival e do que o da minha carreira como atriz. Eu fundei a Sociedade dos Amigos da Cinelândia; consegui a reurbanização da Cinelândia. Consegui uma série de vitórias que são tanto políticas como culturais para a região. Pegar um teatro que estava em decadência profunda devido à ditadura e à censura, que fez que o gênero revista virar teatro rebolado, foi uma época bem difícil, mas foi um sacrifício que valeu a pena, que me deu e me dá muitos momentos felizes.
Você pensa na Leandra (Leal, atriz e filha de Angela) como uma substituta natural ou tem ideia diferente?
Não penso na Leandra como uma substituta porque ela tem a carreira dela, tem a vida dela. Ela pode pontuar em um evento aqui, outro acolá, mas eu acho que ela não deve — de jeito nenhum — fazer o que eu fiz. Leandra tem uma carreira linda, tem várias facetas e um talento que abrange várias áreas dentro da cultura, e eu acho que deve mesmo é focar na carreira dela, porque o Teatro Rival já é um patrimônio da cidade do Rio de Janeiro. .
Qual a maior emoção vivida por você no Rival?
Eu tive várias emoções vividas no Teatro Rival. Não tenho como dizer qual foi a maior. Foram muitas! É injusto eleger a maior. São tantas! Receber o título de Cidadã Benemérita do Município do Rio de Janeiro, no palco do Teatro Rival, com show do Luiz Melodia, foi uma delas.
Quem são os artistas mais “queridos” do teatro?
Todas as memórias e emoções são muito fortes. Os shows do João Bosco, do Ivan Lins, do Chico César, do Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho, Elza Soares, João Nogueira, Alcione, Lenine, Adriana Calcanhotto, Seu Jorge e tantos outros artistas que foram lançados, valorizados ou resgatados no palco do Rival. Lembro com muito carinho do encontro de Ângela Ro Ro com Cássia Eller. Ver a Mart’nália crescer e acompanhar o seu desenvolvimento artístico é muito emocionante. Resgatar Cauby Peixoto e acompanhar esse renascimento, dar a mão para ele e caminhar junto. Todos os artistas são muito queridos. Nossa Senhora! É muita história! Tenho saudades do Emílio (Santiago), da Beth (Carvalho), do Luiz (Melodia), do Monarco, do Nelson Sargento. Desses e de tantos outros. É muita felicidade. É muito amor. É muita coisa boa e eu só tenho a agradecer.
Na comemoração do aniversário houve um espetáculo sobre Cauby Peixoto. Sei que você viveu histórias com ele no Rival. Pode contar algumas?
Cauby se apresentou no palco do Rival no Festival 80 Anos. Foi muito precioso vê-lo no palco. Sem dúvida ele foi um dos maiores e mais versáteis intérpretes da nossa música, um dos maiores nomes da era do rádio. Impossível não lembrar e não se emocionar com ele cantando “Conceição”. É muito história bonita. Ao longo de sua vida ele foi como o nosso Rival, símbolo de resistência cultural. Uma vez, ele foi cantar no teatro, e eu o achei muito debilitado. Fui ao camarim, ele disse que estava bem. Eu estranhei, mas cheguei a achar que ele estava apenas com a sensibilidade muito aflorada. Ele entrou, cantou duas músicas, foi aplaudidíssimo, voltou para o camarim. Cheguei lá, ele estava gelado, não respondia. Pedi pelo amor de Deus se tinha um médico na plateia. Havia dois. Eles o atenderam e o levaram para o hospital. A taxa de açúcar dele estava altíssima. Poderia ter acontecido o pior. Depois disso, a empresária dele foi afastada, porque ele não tinha a mínima condição de se apresentar.