Primeiro, ele ganhou o Nordeste com o ‘sinalzinho da amizade’ e o batidão de João Pessoa. Agora, hit do refrão ‘parabéns para você’ faz Neymar cantar e Marquinhos rebolar, enquanto a carreira de Aldair decola pelo Brasil.
Aldair Brito da Silva tem 21 anos, mas parece já ter vivido o dobro disso. Ele começa a ser conhecido pelo país com o hit “Amor falso”. Mas, além de cantar “parabéns para você, que me fez entender / que minha paixão não é você”, Aldair Playboy também…
- … ralou como pintor, gesseiro e auxiliar de lava-jato.
- … fez parte do grupo Swing dos Playboys, onde ganhou o sobrenome artístico.
- … se destacou na cena do chamado “batidão de João Pessoa”.
- … saiu da comunidade de Planalto da Boa Esperança, na periferia da capital paraibana, e começou a ficar conhecido pelo Nordeste.
- … emplacou músicas com letras ousadas como “Vai toma” e o bordão “faz o sinalzinho da amizade”, que virou marca registrada dele.
- … arriscou uma música mais romântica, “Amor falso”, que explodiu e levou sua voz até à Rússia, onde Neymar colocou o hit para Marquinhos rebolar antes do treino da seleção (veja abaixo).
Mas espera aí, que a lista de Aldair ainda não acabou. Eis outros fatos pessoais recentes…
- …. ele espera a chegada do quinto filho – sua esposa está grávida de quatro meses, e eles já têm Davi, Radassa, Joaquim e Guilherme.
- … Aldair foi criado pela avó, que era empregada doméstica. No ano passado, Aldair a viu ter um infarto e morrer na sua frente, na igreja evangélica que frequentava.
- … a avó não viu seu maior salto profissional: foi contratado pela agência Luan Promoções, a mesma de Wesley Safadão. “Amor falso” foi regravada com Aldair, Wesley e MC Kevinho.
“Eu acompanhei o Safadão desde pequeno, sou fã. Ainda não acredito. Fico deitado me perguntando se é verdade o que está acontecendo”, diz Aldair.
No caso, ele estava deitado na cama de um hotel no Piauí, falando com o G1 pelo telefone antes de um show. “Acho que estou em Bom Jesus”, arrisca (sim, era essa mesma a cidade). “Tô aqui cansado”, diz o cantor que faz atualmente média de 30 shows por mês. Cansado, mas não desaminado.
Ele sabe que os 52 milhões de views de “Amor falso” (somados os clipes no YouTube da versão solo e com Wesley e Kevinho) indicam uma chance única de virar nome nacional. “Aqui no Nordeste já tenho um público grande. Essa música vai fazer uma mudança. Veio para completar o que faltava.”
Batidão de João Pessoa
“Tem uma mistura do reggae, forró e o palavreado e o jeito de cantar do funkeiro”, Aldair tenta definir. O tal batidão de João Pessoa é semelhante ao brega-funk de Recife ou ao arrocha-funk do Rio e SP. É mais uma ponta da atual união entre a música popular do Sudeste e Nordeste.
Aldair Playboy é o segundo nome do Nordeste em 2018 a surpreender o público mais ao sul e alcançar o 1º lugar em streaming no país, após o “Envolvimento” da pernambucana Loma. E atrás de Aldair ainda vem o novinho MC Bruninho (PE), cuja “Jogo do amor” já beira a liderança.
Na Paraíba, a mistura dos ritmos dançantes populares locais com o funk é mais puxada para o reggae, com bastante teclado. Por lá, Dodô Pressão e Gil Bala são outros grandes nomes locais (veja abaixo).
“Antes tinha muito preconceito, muito mesmo, contra essas músicas. Tinha lugar que a gente não podia tocar. Alguns tinham até desistido de cantar, porque estavam por muito tempo na luta. Hoje as portas da cidade abriram para o batidão. Todo mundo quer tocar agora que está sendo bem aceito”, diz Aldair.
O amor venceu
Antes de “Amor falso”, as letras do batidão falavam bem mais de sexo do que de amor. “Já fiz moto de motel, sentado em cima do banco / E a mina por cima de mim com o vestido levantando / Sarrando e quicando”, canta Aldair em “Vai tomar de frente”, por exemplo.
Tanto que ele nem apostava tanto na romântica “Amor falso”. A composição não é dele. Foi oferecida por três autores do Ceará: Rogerinho, Felipe Ennzo e Walber Cássio. Aldair hesitou, mas gravou. “Sem investir nada na música, coloquei na internet e explodiu”, descreve.
A guinada romântica vai na mesma direção do funk de São Paulo, cujas faixas mais apaixonadas também estão indo bem.
No Nordeste, há quem fale de “batidão romântico” – seja para artistas da Paraíba, como Aldair e Dodô, seja para os de Recife, como MC Bruninho. Na prática, eles dão uma volta e se aproximam de novo do brega original, mais emotivo.
O rock perdeu
Se você for a uma festa em João Pessoa e fazer um sinal de chifre com a mão para posar de roqueiro, vai se dar mal. O gesto, associado ao heavy metal no resto do mundo, é o mesmo do “sinalzinho da amizade”, que virou marca de Aldair Playboy – ele cita em várias músicas.
Mas de onde surgiu isso? “Na Paraíba a gente faz esse sinal do chifre para fazer piada com o cara que é corno. E na época em que a gente começou a fazer shows, isso virou uma brincadeira entre a nossa equipe. No fim, para a gente, acabou virando o ‘sinalzinho da amizade’. Aí eu comecei a falar isso no palco e nas músicas”, explica Aldair.
Rumo ao Sul
Aldair já fez show em São Paulo após lançar “Amor falso”. “A diferença foi muito grande. Agora sou mais reconhecido. Tem o pessoal que conhecia antes, sabia do sinalzinho da amizade e tal, e agora os que ficaram sabendo por ‘Amor falso'”.
A ideia agora é investir mais na linha romântica e menos na sexual. Ele já lançou “Deixa eu te fazer feliz”, com Márcia Felipe, perto do Dia dos Namorados. Ele cita uma próxima música do trabalho cujo título tem alto potencial de sofrência: “Ainda te amo, mas tô indo embora”.
Aldair diz que o hit tem dado a ele fãs de faixa etária mais variada. “Depois dessa música, no meu camarim, entra gente que tem idade para ser minha avó”.
Por falar em avó, o único momento em que ele fica menos animado é quando diz que a avó que o criou não chegou a ver seu sucesso. “Ela me incentivava muito. Chegou a tirar dinheiro da feira para eu poder ir para o estúdio”, lembra.
Jackson who?
Outra lembrança de Aldair é passear no centro de João Pessoa com a avó e ela explicar de quem era aquela estátua no meio do caminho – o conterrâneo paraibano Jackson do Pandeiro, homenageado com uma escultura na praça Rio Branco.
Quando ele conta essa história, surge a chance de terminar este texto de um jeito bem metido: comparar o desafio de Aldair neste início de carreira ao caminho do mestre paraibano de origem humilde, que passou de trabalhos braçais à conquista musical do Nordeste e depois do Sudeste.
Só que Aldair não foi muito além da explicação básica da avó e nem se lembra direito do que ela falou sobre Jackson do Pandeiro.
As inspirações musicais que ele cita são bem mais aleatórias: Rodriguinho dos Travessos (“tem gente que diz que eu pareço filho dele”) e Chris Brown (“sempre que ouço me dá energia positiva”).
Ao dizer o que gostaria de fazer no futuro da carreira, ele elogia Chris Brown de novo e explica: “Gosto muito de misturar as coisas: forró, pagode, samba, música americana.” Como diria o cara da estátua, uma mistura meio chiclete com banana.
Funk ganha sabor nordestino