Por Belinha Almendra.
A força feminina está com tudo – e cada vez mais prosa – na indústria do entretenimento. Há quem diga que o “DNA multitarefa” é o nosso maior aliado. Ou o tal “sexto-sentido maior que a razão”, como já cantava Rita Lee em “Cor de rosa-choque”, há mais de 4 décadas. O fato é que não há como imaginar o mercado da música sem a nossa presença. Em meio a crescente demanda por conteúdos que espelhem a diversidade da sociedade que nos rodeia, as mulheres são cada vez mais parte ativa e crítica neste cenário.
Sempre fomos muitas nesta imensa cadeia de profissionais do showbiz, mas a presença feminina demorou a se impor em alguns setores. Para me ajudar a contar essa história, conversei com quatro mulheres talentosas (algumas ex-companheiras de front), que escolheram enfrentar com muita competência a “montanha russa” que suas atividades lhes impõem. E sem mimimi.
Nos anos 1990, época em ingressei neste universo como produtora do Sistema Globo de Rádio, a locutora Selma Boiron já tinha feito história na revolucionária Rádio Fluminense, que lançou todas as bandas do B-Rock de que se tem notícia. “Quando cheguei no mercado, há 42 anos, não cheguei sozinha: a Rádio Fluminense era feita só por mulheres. Só mais pra frente vivi situações de machismo. Era tão estrutural, tão normalizado naquela época, que muitas vezes eu sequer percebia. Mas sempre consegui impor respeito e alçar postos de liderança e comando, sendo mulher. Ouso dizer que depois da minha geração, todas as emissoras passaram a reservar pelo uma vaga para uma voz feminina”, conta Selma.
E se o assunto é desbravar territórios ainda majoritariamente masculinos, a produtora, gestora cultural e empresária Giselle Kfouri sabe bem do riscado. “No segmento do mercado cultural, sempre fui muito bem recebida. Como empresária (de Roberto Menescal), já senti alguns olhares atravessados de empresários e produtores do showbiz. Sou uma pessoa muito exigente, tem quem me chame de durona, mas é aquela história: o homem quando é firme, é enérgico; a mulher, é histérica. Pra mim, ser mulher é uma vantagem: a gente tem um feeling, um sexto-sentido, que faz toda diferença”, resume Giselle, sabiamente. São “as duas faces de Eva, a bela e a fera”, pra seguir citando Rita Lee.
Uma das atividades mais desafiadoras do mercado da música é sem dúvida a de produtor. Andrea Menezes, do alto de sua vasta experiência como produtora de artistas, festivais e eventos (aos vinte e poucos anos já produzia o saudoso Luiz Melodia), passou por poucas e boas. “Como eu negocio todas as questões relativas à pré-produção dos shows, volta e meia ainda me deparo com profissionais que não esperam discutir detalhes técnicos com uma mulher. O machismo era muito pior quando eu comecei, passei por situações horrorosas. Rolava um desrespeito misógino, mesmo”. Mas Andrea vê claros progressos, sobretudo na parte técnica dos eventos: “A gente não via mulheres como iluminadoras, técnicas de som, rodies. Ainda há uma maioria masculina, mas a presença feminina cresceu muito. Hoje há um sentido de sororidade, uma mulher puxa a outra, o que é muito bom”.
Luciana Camargo, de quem fui contemporânea na Universal Music, deu a melhor definição para quem se aventura pelos bastidores: “É como estar numa montanha russa, de olhos vendados, no primeiro carrinho”. Craque na área do internacional (passou pelas majors), ela encarou o desafio de mudar do universo das gravadoras para o dos mega festivais. Com edições do Planeta Terra, Rock in Rio, Rock in Rio Portugal, The Town e Lollapalooza no currículo, Luciana foi ampliando suas atribuições e desempenha hoje a função de artistic liaison: “O público não tem ideia do que acontece por trás de um show: ele compra o ingresso e encontra tudo pronto, sem ter noção de todos os esforços que foram feitos para que aquele artista estivesse ali, naquele horário, em cima do palco”.
Como todas as mulheres com quem troquei figurinhas, Luciana ama o que faz, o que torna possível a missão de lidar com equipes internacionais e staff gigantescos. “A gente mexe e vende emoção – não tem outra palavra pra descrever. E o que a gente ganha de volta, não tem preço”, finaliza emocionada.
Segundo relatório da consultoria McKinsey & Co, as mulheres representam metade da força de trabalho no setor do entretenimento. No nosso mercado, elas já são CEOs, diretoras, empresárias, produtoras executivas, e o que mais quiserem ser. A julgar pelas profissionais que ouvimos, a empreitada vale à pena.
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