Por Vanessa Castro.
Publicado em 02/10/2023.
Há mais de 20 anos no Rap, conhecida pelo seu discurso feminista, militante e coerente. Fez parte de um dos maiores grupos do nosso Rap Nacional – SNJ (Somos Nós a Justiça).
1 – Conta pra gente como foi o seu início na música?
Sempre gostei de poesia e me lembro de ainda na adolescência fazer a versão de um samba em forma de Rap, com o nome “vida bandida”, isto por volta de 94.
Eu frequentava os lugares onde tocava Rap, como a Casa de Cultura de Santo Amaro, onde eu vi pela primeira vez a MC Regina no front, que para além de fazer parte da organização mandava rimas.
Foi vendo ela fazer essa articulação e ouvindo o disco “Consciência Black” que de quebra trazia o som
“Nossos Dias” da Sharylaine, e “Tempos Difíceis” do Racionais. Esse foi o início para que eu quisesse fazer Rap e poder me expressar sobre as lutas, medos, amor e desigualdades.
2 – Em meados dos anos 90, surgiu o SNJ (Somos Nós a Justiça). Vocês, através das letras e mensagens, falavam sobre a realidade da periferia. De lá para cá, mudou algo?
Sim, desde os anos 90 até hoje, houve algumas mudanças no cenário do RAP, que ao longo dos anos evoluiu e se diversificou. Hoje, há muitos artistas e grupos que abordam diferentes temas e estilos musicais dentro do gênero e com o avanço da tecnologia e das redes sociais, as mensagens são mais divulgadas e têm alcance mais amplo.
Porém, apesar das mudanças, ainda existem artistas que mantêm o compromisso de falar sobre as questões que ainda enfrentamos nas periferias.
3 – “Evoluindo através dos tempos” foi lançado em 2017. Como foi essa transição de grupo para trabalho solo?
É o sentimento de liberdade sobre escolhas que fiz para construção desse disco, escolher os produtores e fazer um som produzido pelo DJ QAP (in memorian), onde eu pude ter vivências, recordações e aprendizados que trago para vida.
Também pude trazer um som com a Stefanie que é referência no Rap, defendendo nosso lugar de fala dentro da Cultura, viajar por outra vertente musical com o Adonai (cidade verde sounds), foi uma experiência engrandecedora.
Após 6 anos, olho para trás e me orgulho, mas tenho buscado evoluir musicalmente. Essa transição foi essencial pro crescimento pessoal e profissional.
4 – Como é o seu processo de criação/composição?
O meu processo criativo acontece de variadas formas. Já aconteceu de sonhar com a letra e melodia e só colocar as ideias no papel, algo intuitivo.
Assim como pode ocorrer da inspiração vir de vivências, momentos, pode vir de qualquer lugar e é o ponto de partida para composição.
Em seguida, desenvolvimento de ideia, experimentar ritmos e melodias, criar ponte, refrão, definir como essa ordem vai aparecer na música.
5 – Sobre ser uma representatividade, você acredita que hoje as mulheres conseguem um espaço com menos obstáculos na cena?
Já teve uma grande luta e espaços alcançados por mulheres que lá trás pavimentou essa via, que hoje são grandes referências.
Os obstáculos sempre vão existir porque o Rap é um movimento machista.
Poderia colocar aqui inúmeras situações de boicotes que vivi e ainda vivo, que me leva a pensar se o racismo também contribui para que torne o pior cenário ainda.
6 – Como você observa o atual cenário do Rap Nacional?
Há um tempo, o Rap não tinha espaço e não era considerado música. O Rap ultrapassou barreiras entre as classes, cor e gênero e se popularizou sendo uma das fontes mais rentáveis no mercado fonográfico.
O rap tem se mostrado uma forma de expressão artística poderosa, abordando diversas temáticas, incluindo questões sociais e políticas.
Podemos dizer que o cenário atual do rap é marcado pela diversidade, autenticidade e força de sua mensagem.
7 – Conta pra gente, o que você tem escutado? O que toca na sua playlist?
Na minha playlist toca diversos estilos musicais.
Grandes sambistas, como Yvone Lara, Giovanna, Leci Brandão e outros artistas do rap, trap e MPB.
8 – Você lançou recentemente o Single “Aqui É Zika”. Pretende lançar este ano mais singles, ou até mesmo um álbum na íntegra?
Tenho alguns singles para serem lançados ainda neste ano.
O próximo passo é lançar meu EP que está em processo criativo, porém já posso dar o spoiler de que vai trazer Ancestralidade e Africanidade no seu ritmo.
Aguardem!
9 – Quais os próximos passos da Cris?
Os próximos passos, incluindo o EP, é buscar fazer músicas com artistas os quais são minhas referências para além do Rap e ir trabalhando em outros projetos futuros.
O post Sintonizando com Cris SNJ apareceu primeiro em ABRAMUS.
Deixar uma resposta